Toplessaço – 21/12/13
Mulheres e homens se uniram em Ipanema, nesse sábado, na luta por direito a fazer topless na praia.
O evento, intitulado toplessaço, foi divulgado através do Facebook com adesão maciça: mais de 8000 confirmaram presença na pagina do evento. Como tudo hoje na era virtual, na prática a adesão não foi proporcional à confirmação.
Mais do que fazer topless, o evento preza para maior liberdade na naturalização dos corpos, pelo fim da repressão policial e por uma cidade livre da visão machista.
Além da impressa, muitos curiosos e alguns com atitudes machistas intimidaram o movimento, tanto que a certa altura, bem precoce ao término do evento, poucas pessoas mantinham a naturalidade em fazer seu topless sem preconceito.
Após Leila Diniz (1945 – 1972) iniciar a prática do topless nos anos 60/70, o ato – natural nas praias européias – não vingou em terras, digo, areias brasileiras.
Aos poucos durante a tarde, uma ou outra banhista que participou em apoio ao movimento, colocou novamente a parte de cima como forma de minimizar os bolinhos de curiosos e assédios inconvenientes.
- Opinião de quem aderiu:
Ana Luísa Fonseca relata sua participação do evento: “Fui porque acho importante mostrar não só para as pessoas dos sexo masculino, mas para a sociedade o quanto nos prendemos a coisas pequenas. Todos os dias, milhares de mulheres são agredidas física e verbalmente por conta da ignorância de muitos. É preciso ser tolerante e enxergar situações (topless, decote, roupas curtas) como atos naturais, comum a tod@s nós! Crianças acompanhadas de seus pais mães permaneceram ao lado de nós, mulheres que manifestávamos, e até pediram para tirar fotos. Um par de seios nus, vai tirar a inocência ou irá agredir a quem quer que seja.”
Sara Winter, ex-integrante do FEMEN, veio prestigiar. Grata surpresa poder conhecer pessoalmente ela e o marido.
- Opinião do bloguista e fotógrafo:
A baixa adesão, desproporcional às redes sociais, não tira o valor e repercussão do evento.
Mostra sim que mesmo com milhares de favoráveis à liberdade de expressão do topless, a sociedade e seus tabus têm um peso ainda muito alto, intimidando participações públicas.
O tabu é algo que fixa na cabeça das pessoas, vejo isso até em quem está voltado para a liberdade de expressão. Algumas participantes não se sentiam a vontade diante das câmeras. Eu, como sou educado, deixei de registrar cerca de 50% ou mais do evento, mas as mesmas que recusaram ou questionaram lentes apontadas estão em diversos meios de comunicação. Algo que deveria ser natural e positivo visto a divulgação do evento e a própria finalidade do ato, pois o intuito não seria que os seios sejam visto com naturalidade, como qualquer outra parte do corpo? Que sejam retratados, filmados e admirados como admiramos um fio de cabelo, uma barriga ou qualquer parte do corpo. De preferência sem parâmetros de comparação ou biotipo de mídia, porque o corpo humano deve ser visto com o respeito e valor independente de padrão de beleza previamente moldado pela sociedade. Tudo bem que o assédio e o calor da situação tiraram toda a naturalidade do ato, o clima fica realmente tenso nessas horas.
A grande maioria dos meios de comunicação está escrevendo da grande quantidade de pessoas fotografando em comparação ao pequeno número de adesões. A imagem é fundamental: Este ano, certo jornal Francês rodou uma edição completamente sem fotografias: uma crítica para mostrar a importância da comunicação visual e sua valorização na mídia.
Achei o máximo o evento, apoio incondicionalmente! Mas vou confessar que de certa forma, em alguns momentos, eu como fotógrafo me senti incomodado, mais precisamente discriminado. Fui para registrar o evento com toda naturalidade do mundo com respeito e foi o que fiz e vejo milhares de pessoas pichando: “eram como animais com câmeras apontadas”. Eu não cheguei no horário mais tenso, e claro que a cada momento de oportunidades, cliques e mais cliques seriam disparados. Isso seria natural, muitos estavam realizando seu trabalho, me espanto com a surpresa. O que realmente existe e vi, alguns poucos, sem noção que soltavam piadinhas e cantadas ao vento. Mas no geral a grande maioria respeitando os espaços. Agora, registro, de um evento marcante, com seios de fora ou não, seria o mínimo esperado. Imagine se das 8 mil pessoas, 500 ou somente 100 estivessem lá, ativamente participando? Seria aí normal o número de fotógrafos?
Lembrei de uma impressão que tive quando fui fotografar um Fashion Rio: Mesmo com grande volume de pessoas, modelos, etc… a grande maioria dos profissionais eram dos meios de comunicação.
Fica uma controvérsia: mostrar os peitos não é o problema e sim mostrar a cara. Infelizmente, em pleno século 21, a sociedade brasileira continua machista, feminista ou a discriminar o corpo com pudor excessivo. Quero enfatizar que eu admiro essas mulheres, mesmo com todo temor que não deveriam demonstrar neste momento, pois é contradição fazer o topless e não se sentir orgulhosa com seu corpo, a ponto de deixar o tabu ou o que for interferir.
Não liguem para as críticas, pois criticar é inerente ao ser humano, principalmente quem não faz nada para mudar ou melhorar o mundo. Coloquei todos os fatos jornalísticos deste evento, tantos os positivos e negativos. Reparo que a mídia jornalística só enfatiza os fatos negativos, como o maior defeito do mundo: apontar defeitos e criticar negativamente. Olhei minhas fotos ao estar finalizando o post, e o que vejo são momentos de alegria, descontração, liberdade, harmonia.
Em resumo: desculpe se fui enjoado nos comentários, amei o evento! Friso novamente:
- Coisas que me incomodaram:
– homens, maioria pivetes mexendo com quem aderiu;
– Imprensa taxando fracasso do evento devido pouca adesão na areia;
– Comentários colocando os fotógrafos como lobos, animais babando por uma foto (fotógrafos são “animais” que lutam por fotos até de político);
– Gente que aderiu e não queria ser fotografada (deixei de mostrar imagens belas e naturais para somar com a causa).
- Coisas que achei o máximo:
– Homens que apoiaram pintando o corpo ou usando biquíni.
– Não importa a quantidade, as pessoas que compareceram representam o desejo de uma grande massa.
– Quem não se importava em ser fotografada.
– A grande maioria da praia estava curtindo naturalmente.
A luta não foi e não deve ser em vão. Tem que ser contínua, só assim podemos colher os frutos de uma sociedade mais justa e com liberdade de expressão e cultura.
Que venham os próximos Toplessaços, até um dia ser natural e comum ver “mulheres de peito” em comunhão com a natureza, como nós homens, seus amigos e famílias: sem tabu com o próprio corpo.
– Lauro Andrade é especialista em nu artístico e fotografias 360º add Facebook: lau.andrade@hotmail.com (identifique-se)